terça-feira, 17 de setembro de 2013

Entrevista: Monahyr Campos por Daniele de Almeida



Entrevistado: Monahyr Campos.
Local: Universidade Paulista – Unip – Campus Marquês – Av. Marquês de São Vicente, 3001 – Barra Funda – São Paulo/SP
Data: 16/09/2013 às 20h50min.


Monahyr Gonçalves Campos, 42 anos, nasceu na cidade de São Paulo/SP. É professor, ator, músico e compositor. Tocou durante bastante tempo em barzinhos de São Paulo e em praias de Trindade, no Rio de Janeiro. Formado pela USP em Letras, com pós–graduações em Literatura Africana, Psicopedagogia e Ética e Filosofia, vive sua vida entre as suas paixões: a música, o teatro e lecionar aulas para crianças, adolescentes e adultos.

Entre uma aula e outra pedi ao professor para fazer uma rápida entrevista, e foi assim, no meio do corredor da faculdade, no intervalo, que falei com o professor Monahyr Campos. Ele sorridente como sempre me recepcionou muito bem.

  1.      Fale um pouco sobre a sua profissão.
Monahyr: Eu trabalho com música e teatro e trabalho como professor, trabalhos que estão intimamente ligados, pois trabalho com a comunicação... e como para mim a arte é uma forma de militância, então as aulas acabam sendo só uma extensão desse trabalho... para tentar contribuir com a sociedade.

  2.      Fale sobre sua profissão como músico.
Monahyr: Eu trabalhei muito tempo tocando em barzinhos à noite e em praias no Rio de Janeiro mas, de uns oito anos para cá eu fiz uma escolha, até por causa do cansaço e da idade, de só trabalhar com projetos específicos, então tenho um grupo de música infantil e tenho um trabalho próprio que é a trilha sonora de uma peça que eu fiz e a trilha sonora ganhou vida própria, estou trabalhando também produzindo uma cantora.

  3.      E sobre sua profissão como professor?
Monahyr: Eu acho que vou ser sempre um profissional da comunicação, então, trabalho com crianças da 5º série e com jovens do Ensino Médio e Ensino Universitário, justamente porque acho que esse trânsito possibilita que eu aprenda muito.
  4.      Como o senhor era como aluno?
Monahyr: Eu sempre gostei muito de estudar e uma coisa que falo para meus alunos até hoje é que para mim foi muito válida essa experiência: A universidade é o melhor lugar do mundo para quem quer estudar e o melhor lugar do mundo para quem quer se divertir e, os espertos fazem as duas coisas, a pessoa que só estuda perde muito da vida e a pessoa que só quer se divertir também falha.

  5.      Por que o senhor desejou ser professor?
Monahyr: Não foi uma escolha, foi uma contingência, a vida foi me levando.
Quando fui concluir a faculdade eu tive que fazer as disciplinas de licenciatura e eu me apaixonei. Cheguei a me questionar que se eu tivesse sabido antes, teria feito a faculdade de pedagogia e não apenas a licenciatura. É uma paixão, sem dúvida!

  6.      Qual a importância da música na sua vida?
Monahyr: Para mim a música é absolutamente tudo. É a minha forma de ajudar ou de fazer o mundo um pouco melhor.

  7.      Em sala de aula o senhor sempre diz que seu objetivo é eliminar da vida de seus alunos a frase: “Não foi isso que eu quis dizer”. Como surgiu? Por quê?
Monahyr: Pela experiência do meu trabalho como professor, eu vou buscando, até por ser um comunicador, o que chamamos na área de jornalismo de bordão. Todos os programas têm um bordão, tem aquela frase marcante e eu defini que esse seria o meu bordão.

  8.      Alguma dica para seus alunos em suas profissões?
Monahyr: Tracem um caminho que gostem, porque é a única forma de se destacar. Porque se a pessoa não gostar, se não for sua paixão, se não for pelo prazer de trabalhar naquilo que se ama, ela não vai fazer a diferença. Todo ser humano deveria ter como meta trabalhar com o que gosta.

  9.      O senhor desenvolveu alguma pesquisa? Fale um pouco sobre elas.
Monahyr: Sim, eu fiz uma pesquisa sobre o racismo, que na verdade foi um convite de um amigo meu e foi por causa da experiência pessoal com relação ao racismo e ele me falou: “Todas as peças de teatro que vemos sobre racismo tem sempre o mesmo viés, eu queria outra coisa, uma experiência que fosse inovadora e queria que você escrevesse.” Eu assumi, adorei a ideia, quando ele me falou, eu adorei.
Passamos dois anos pesquisando, visitei quilombos, rodei por algumas cidades do Brasil, lemos muito sobre o tema e ai resultou numa peça de teatro. E como a finalidade da peça era rodar universidades, escolas, apresentar para estudantes; sempre que terminava a peça abríamos espaço para um debate, e a partir desses debates começaram a surgir convites para palestras, é um tema que eu não abandono mais e que não me abandona, isso desde 2007.
No final dos anos 90 eu fiz uma pesquisa com relação a drogas e a inserção da cocaína na cultura e na mídia, ela está muito presente nos esportes, na música e ambas as descobertas me impressionaram na época.
A mais recente é sobre o uso das tecnologias na educação, pois dentre os meio educacionais é muito comum as pessoas falarem das novas tecnologias, e na minha última pós-graduação que foi em Ética e Filosofia na Educação, eu pesquisei e defendi a tese de que o que os professores chamam de “novas tecnologias” tem mais idade do que a maioria desses professores, a internet tem mais de 30 anos e toda essa estratégia de comunicação não é tão nova quanto as pessoas querem acreditar, por isso fiz uma pesquisa aprofundada nessa área.

  10.     Nós alunos podemos ter acesso a suas pesquisas?
Monahyr: Elas não estão publicadas, mas eu disponibilizo para quem tiver interesse.

  11.     Pretende publicá-las?
Monahyr: A pesquisa sobre o racismo virou uma peça de teatro e tenho planos de, ano que vem lançar em livro, até porque eu quero que outros grupos montem, queria viver a experiência de vê-la encenada por outros artistas, essa com certeza eu vou publicar. As demais são pesquisas acadêmicas e você sempre acha que poderia ter feito melhor, então, mais para frente pretendo publicá-las, quando eu tiver tempo para reorganizar e para refazer todo o percurso.

  12.  Tem alguma peça em cartaz?
Monahyr: Esse ano especificamente estou trabalhando só com música, estou produzindo a cantora Cris Glória, tem o grupo Racauí, o grupo de música infantil que é o meu xodó e tem o meu trabalho pessoal, então esse ano eu estou com esse enfoque. O grupo Racauí, no mês da criançam vocês vão ter notícias, nós fizemos algumas apresentações no mês de julho, nas férias. Quanto ao meu trabalho pessoal, no mês de novembro, por ser o mês da Consciência Negra, então provavelmente eu vou fazer algumas apresentações.

  13.  O senhor já sofreu algum tipo de Racismo?
Monahyr: Essa pergunta é muito pertinente... e eu costumo dizer que pelo menos uma vez por semana eu vivo alguma experiência de discriminação racial.
Em alguns ambientes em que eu transito, por ser professor universitário, é comum eu ser recebido nos lugares e as pessoas olharem para mim com aquela cara de: “Ah, você não tem cara de ser professor universitário”. Mas isso é velado e hoje em dia já não me atinge, teve momentos que isso me atingia. Em alguns lugares onde leciono, eu leciono para turmas de classe alta e algumas pessoas têm por hábito descriminar de forma bastante agressiva e até a minha presença lá já é uma forma de combater esse racismo, só pelo fato de mostrar que eu estou ali pelos meus méritos e de conseguir permanecer ali, já é um discurso mais efetivo do que qualquer música ou peça de teatro que eu faça.

Para finalizar, algumas frases de Monahyr Campos:
“A arte é uma forma de militância.”
“Um texto é fruto das escolhas do autor. A realidade não.”
“Ironia é a incoerência intencional.”
“A ironia é a forma de comunicação mais inteligente.”


Daniele de Almeida da SilvaB741DC-6
2º semestre de Comunicação Social – Jornalismo
Universidade Paulista – UNIP – Campus: Marquês.
(revisada pelo entrevistado)