“Assim deixamos de considerá-la criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande; algumas vezes ele também é considerado um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem e constitui uma discrepância entre a identidade social real e a virtual” (Goffman 1988, p.12).
Quando pensamos em uma pessoa estigmatizada estamos falando de um ser que, por algum motivo, é visto em sua plenitude apenas por algum traço que pode ser físico ou não. Segundo Goffman, estigma é a situação de um indivíduo que não está apto para ser aceito pela sociedade. Se o sujeito possui alguma característica que chama a atenção impondo-se a quaisquer outras características desse mesmo sujeito e isso destrói a possibilidade de enxergarem outros atributos, dizemos que esse sujeito vive uma situação de estigmatizado. Na verdade, o sujeito só estará estigmatizado se não for aceito socialmente em função de uma característica qualquer.
Imaginemos a situação de uma professora que recebe um aluno com NEEs sem ser previamente avisada. Isso faz com que ela receba esse aluno sem formular conceitos prévios. Supondo que esse aluno não carregue um traço visível de que é aluno com NEEs, (por exemplo: epilepsia) a professora vai trabalhar normalmente com esse aluno e, aos poucos vai conhecendo esse aluno e os atributos específicos daquele aluno. Supondo que após alguns meses esse aluno tenha uma crise, essa professora, que já conhece esse aluno, já sabe de suas potencialidades, de sua inteligência, vai descobrir suas NEEs sem estigmatizá-lo. Nesse caso, trata-se de um estigmatizado desacreditável.
Em sentido oposto, se o aluno trouxer um atributo visível de que é aluno com NEEs, (por exemplo: deficiência motora) é possível que o olhar da professora leve em consideração esse atributo, limitando o sujeito ao que ele traz de atributo visível e, deixando de estimular esse aluno a superar seus limites por, ela, considerá-los intransponíveis. Aqui, o quadro é de um estigmatizado desacreditado.
Nossa tendência é a de inferir que uma dificuldade visível carregue consigo uma série de outras. “Tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir de uma imperfeição original” Goffman, idem. Um grande exemplo disso é quando explicamos o comportamento inadequado de um aluno em virtude de suas NEEs. – ‘Ele grita na aula porque tem epilepsia!’ Como se o comportamento inadequado fosse do justificado por aquela característica. Como se as crianças sem essa característica não tivessem aquele comportamento nunca.
Uma pessoa estigmatizada se sente em evidência o tempo todo. Ela nunca sabe como o outro vai interpretá-la e como reagirá. Em alguns casos, um ato insignificante pode ser supervalorizado por ser oriundo de uma pessoa com aquela característica específica. Ou, ao contrário, qualquer erro, qualquer falha, perfeitamente comum, pode servir como elemento confirmador do estigma.
É comum as pessoas optarem por segregar a criança com NEEs acreditando que assim estarão protegendo-a do estigma. Familiares fazem isso com muita frequência por acharem que a criança estará protegida quando estiver entre “iguais”. Ao contrário, as experiências de convívio com os ditos normais aumentam seu repertório de situações vividas e ajuda na resolução de problemas e no enfrentamento de situações constrangedoras. Quando mais cedo ela experimentar conviver com pessoas sem deficiências, sem NEEs, mais ela vai ampliar seu repertório para sair das situações estigmatizantes. A segregação é justificada historicamente em virtude desses estigmas.
Faz-se importante pensarmos na maneira de trabalhar com alunos que já incorporaram uma série de estigmas e que são, dessa forma, marcados negativamente no ambiente social.
Como os professores e a equipe escolar atualmente entendem esta questão?