A sala de aula é um espaço privilegiado em termos de relações humanas, tanto em relação a possibilidades produtivas quanto a possibilidades destrutivas. Com relação a experiências destrutivas de relações em sala de aula, vemos constantemente notícias que corroboram essa impressão. Infelizmente boas experiências não têm a mesma repercussão midiática.
O filósofo Alfonso López Quintás realizou um estudo com palavras de uso cotidiano procurando conceituá-las. Um simples aperto de mão pode ser visto como uma ‘experiência bidirecional’, em que o gesto simboliza a intenção de união por algum objetivo em comum, sem, no entanto que se ponham em risco as individualidades. Não há relação humana autêntica se não houver uma relação bidirecional. Isso acontece em todas as relações humanas.
O termo ‘encontro’, para o filósofo, requer uma definição mais ampla do que a simples aproximação física a que normalmente nos remete, passa a ter a dimensão de ‘encontro verdadeiro’. Um terceiro conceito estudado pelo filósofo possibilita uma melhor compreensão do que é ‘encontro’: o ‘âmbito’, que vem a ser a transformação de algo que, sem esse ‘encontro’ verdadeiro, seria apenas um objeto. Um bom exemplo seria um livro utilizado como apoio ou base para se por algo em cima. Se o livro não é lido, é apenas um objeto, no entanto, quando alguém estabelece um diálogo com esse “objeto”, há aqui a transformação do objeto em um ‘âmbito’. Nesse caso, o livro não ganha dimensão humana, não deixa de ser um objeto, mas, ao mesmo tempo, possibilita uma experiência bidirecional. Afinal, você age sobre o livro, mas o livro também age sobre você.
O ser humano é um ser “ambital” por excelência. Quanto mais ‘âmbitos’ eu produzir mais criativo eu serei. Isso pode ocorrer tanto entre ser humano e objeto, quanto entre seres humanos. O professor deve estabelecer sempre relações ambitais em sala de aula e essas relações podem ocorrer do professor para o objeto de estudo e do professor para o aluno e, deve também, ser um catalisador para que o aluno estabeleça relações ambitais com os objetos de estudo e entre si. A própria sala de aula vazia é apenas um espaço vazio. Na verdade, só faz sentido falarmos em sala de aula se nesse espaço houver uma relação professor – aluno – objeto de conhecimento.
O âmbito pode ser comparado a um jogo, em que há um rejuvenescimento, na medida em que há uma relação criativa e de autotransformação, o que é da natureza humana. A relação em sala de aula pode ser concretizada com essa disposição de se trabalhar esse encontro verdadeiro, estabelecendo relações ambitais, em que o respeito mútuo, o diálogo, a gentileza, os valores humanos se fazem presente estimulando e energizando as pessoas.
A partir da compreensão desses conceitos estudados por Quintás, podemos criar novos modos de se relacionar com as pessoas e com os objetos. Essas possibilidades podem vir de encontro a todas as demandas vividas pelo professor em sua relação com os alunos em sala de aula, com os objetos de estudo do professor (o que inclui a reflexão sobre seu próprio modus operandi), com os alunos e com os objetos de estudo dos alunos.
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