segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A construção psicológica dos valores


Retomando as idéias de Piaget, podemos afirmar que “os valores referem-se a trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior” e essas trocas se dão através da “projeção de sentimentos positivos sobre objetos, e/ou pessoas, e/ou relações, e/ou sobre si mesmo.” A idéia de que os valores se referem a trocas afetivas e, de que eles surgem da projeção de sentimentos é uma idéia bastante nova e só pode estar vinculada a uma visão psicológica do estudo dos valores.

Partindo desse princípio, podemos deduzir que um valor é algo ou alguém de que ou de quem a pessoa gosta. A escola, por exemplo, para alguns é um valor, pois a pessoa gosta da escola, dos colegas, dos professores etc. Para outros, a escola não é um valor. A esses, é aceitável depredar, destruir ou pichar a escola.

Um bebê é cuidado desde antes do nascimento e a probabilidade de essa criança projetar valor positivo com aquele que cuida dela é grande. É possível, também, a pessoa projetar valores com relações, como por exemplo, aquele que vê com bons olhos a relação entre determinado marido e sua mulher, por ele ser gentil e educado com ela etc.

Por fim, as pessoas podem lançar um olhar positivo sobre si mesmo ou não. Há pessoas que percebem suas qualidades e gostam de si. Para essas pessoas ela é um valor para ela, enquanto outras não são um valor para si. É importante pensarmos também que esses valores são dinâmicos e podem mudar ao longo do tempo.

A construção da identidade do sujeito depende dos valores desse sujeito e, só em decorrência deles é que poderão aparecer os sentimentos morais como a vergonha e a culpa. Esses sentimentos são reguladores das relações intra e interpessoais e se manifestam quando o sujeito age contrariamente aos valores centrais de sua identidade.

Se, para uma pessoa, o valor central é a honestidade, por exemplo, a pessoa se sente culpada por dever a alguém e essa culpa não será aliviada até que ela pague o que deve. Para outra pessoa, o valor central pode ser a riqueza, o dinheiro e, sendo assim, a pessoa só terá alívio dessa sensação de mal estar se conseguir o dinheiro. Nesse caso, é perfeitamente aceitável que venha a roubar ou a matar, pois, o valor central justifica qualquer outra atitude.

O sujeito vai modular sua atitude de acordo com os valores que constituem a identidade de cada um. Um sujeito também pode ter, paralelamente a uma atitude de extrema honestidade para com uma pessoa, atitudes desonestas com outras. Dessa forma, a dinâmica dos valores de cada sujeito pode variar, não apenas em relação ao tempo, mas, em muitos casos, em relação a situações ou pessoas. É possível pensarmos no caso de uma pessoa corromper um guarda para não pagar uma multa de 150, 200 reais, mas devolver ao dono, intacta, uma carteira com várias notas de cem dólares.

Uma pessoa pode reformular os valores em função de qualquer acontecimento, como o nascimento de um filho, uma doença ou qualquer outro desencadeador. Não há idade para que se mude esses valores, podendo ser na infância, aos quarenta ou aos setenta anos de idade.

Tema para reflexão: A escola precisa determinar quais valores a escola pretende que sejam centrais na identidade das crianças?

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