segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Educação e ética

A ética na educação escolar envolve a interação entre a coletividade escolar, todos os envolvidos no processo educacional, ou seja, entre os alunos e os professores, alunos e alunos, professores e seus colegas e, entre todos esses e os demais integrantes da equipe escolar, sejam no meio administrativo ou executivo.

O primeiro ambiente de socialização que a criança experimenta é com a família, enquanto que, na escola, ela faz a transição para a vida em sociedade no sentido mais amplo. O primeiro grande conflito de socialização que se estabelece na escola é a dualidade ‘liberdade’ x ‘autoridade’. Essa dinâmica reflete um grande desafio para qualquer um que precisar trabalhar a ética em sala de aula, pois a ética só faz sentido se trabalhada através de exemplos. É pouco válido trabalhar a ética em termos abstratos e/ou teóricos.

No mundo antigo a ética confundia-se com virtude, sendo vista, no mínimo, como se fossem campos complementares. E o lugar preferencial para sua prática era a política, de onde se compreende que, por ética, entendia-se a busca pelo bem comum, pela “concórdia”. Ética e Moral refletiam nesse momento histórico a mesma significação, ou seja, os costumes e ações aceitas socialmente.

Atualmente entende-se a ética como sendo a adesão voluntária a determinadas regras sociais, enquanto que a moral é determinada pelo coletivo a qual se deve obediência. Em ambos os casos estaríamos falando da necessidade de nos colocar no lugar do outro e, o outro é sempre diferente.

A ética é sempre construída a partir do hábito, daquilo que é habitual e constante, e é no exercício diário que se faz as escolhas por comportamentos éticos ou não, em consonância ou não com aquilo que é socialmente aceito. É fundamental percebermos que estamos lidando com uma dimensão do saber que só é perceptível na ação.

Aristóteles, na obra Ética a Nicômaco, afirma que “A excelência moral, portanto, é algo como a eqüidistância, pois, como já vimos, seu alvo é o meio termo”. E, para exemplificar, nos mostra situações em que o medo nos aproxima da covardia e, a ausência dele, da imprudência, pois sentir medo em relação a certas situações e de maneira apropriada é o melhor a se fazer, sendo, portanto, eticamente aceitável e até esperado.

Só é possível pensarmos em uma educação para a democracia, se tivermos em mente que é somos todos diferentes, mas temos a igualdade como condição e, portanto, o dever de zelar pelo direito do outro de ser diferente de mim.

Em Richard Sennett, 1988, p 323-4 , encontramos uma boa definição da relação entre cidade e civilidade, sendo aquela o lugar preferencial para o exercício desta, ou seja, “A cidade é o estabelecimento humano no qual os estranhos devem provavelmente se encontrar. A geografia pública de uma cidade é a institucionalização da civilidade”. Civilidade é, segundo o autor, a ação de forjar laços sociais com estranhos, a despeito dessa distância social, e das diferenças.

Para a criança, o educador é como que um representante de todos os adultos do mundo. É o modelo ideal de ‘cidadão’ em quem a criança se inspira para formar seus valores. A partir dessa constatação pode-se fazer referência a afirmação de Kant, na Fundamentação da metafísica dos costumes, em que ele afirma: “Age de tal maneira a tratar a humanidade, tanto em tua pessoa como na de todos os outros, sempre ao mesmo tempo como um fim, e nunca como um meio.” Também nos diz: “Age de tal modo que a máxima de tua ação possa transformar-se em lei de validade universal”.

Segundo o autor, se devemos agir após respondermos se nossa ação é passível de ser transformada em algo que possa ser feita por todos os demais. Às vezes avaliamos uma atitude pelo que ela nos trás de benefícios ou não, e nos esquecemos que, em muitos casos, deveríamos nos preocupar com a validade coletiva dessa mesma ação.

O pensamente ético deve estar pautado nas perguntas: Como e por que a ação é moralmente correta? Que critérios deve orientar o julgamento? O que devo fazer? E essa ação deve visar a felicidade de todos, a concórdia. Deve se tratar sempre de ações justas aos olhos da coletividade.

O professor jamais conseguirá trabalhar a ética com uma turma se não houver um acordo ou um ‘contrato’ pedagógico, em que cada grupo sinta-se participando da elaboração de seu currículo. E nesse contrato que reside a razoabilidade que deverá nortear as relações entre todos daquele meio social.

A escola como nós a conhecemos foi instituída não apenas para ensinar a ler e escrever, mas também veio para ensinar patamares de comportamento e, portanto, é sempre bom lembrarmos que há um currículo oculto em que se requer o trabalho de ensino da ética. Não podemos engessar os alunos e professores com um conjunto de regras em que eles não tenham contribuído para sua elaboração. Atualmente, a autoridade do professor se legitima não mais pela obediência do aluno, mas sim, pela adesão voluntária do aluno às propostas do professor.
É muito comum o professor ter atitudes de “intolerância”* para com determinados alunos, em virtude de própria dificuldade em lidar com as diferenças. Determinados alunos desencadeiam atitudes preconceituosas por parte do professor e, geralmente, esse professor não se questiona sobre as próprias dificuldades, jogando o foco de suas preocupações com o aluno e tudo aquilo que o faz diferente dos demais.


* O termo intolerância, está entre aspas por eu, Monahyr Campos, ser cauteloso quanto ao seu uso nesse contexto. Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, Tolerância, sf, significa “ato ou efeito de tolerar; indulgência, condescendência”.

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