No estudo de Edgard Morin sobre o pensamento simplificador, o autor estuda as bases no pensamento científico moderno, criadores dos paradigmas da ciência contemporânea. A partir das análises do trabalho de pensadores e cientistas como Descartes, Newton, Kant, Leibinitz, entre outros, Morin sintetiza as bases do pensamento científico contemporâneo em três princípios: a disjunção, a redução e a abstração.
A disjunção caracteriza-se pela separação dos diversos tipos de conhecimento para a aplicação de um método de estudo individualizado em cada disciplina. Esse princípio está na base da criação das disciplinas. A disjunção propõe a separação de uma realidade em várias partes, para sua melhor apreensão.
A redução, outro princípio do pensamento simplificador, estabelece a simplificação do conteúdo, trazendo a explicação de um conteúdo do ponto mais complexo ao mais simples, tomando a parte pelo todo. É uma característica perigosa do pensamento simplificador, porque permite que uma disciplina torne-se detentora do conhecimento de uma realidade que não será analisada em toda sua totalidade e complexidade.
Um exemplo muito comum de pensamento reducionista está nas explicações para a violência escolar, em que o professor se apropria de uma possível explicação, justificando com isso, situações diversas: “Ele age assim por que os pais estão se separando!” Como se não existissem casos de alunos nessa condição que não se mudaram seu padrão de comportamento.
A terceira característica é a abstração, que gerou a matematização e a formalização da ciência. A partir do momento em que as novas tecnologias permitem a virtualização do real, essa terceira característica facilita o aprendizado, possibilitando que se experiencie uma realidade sem vivê-la, mas não se pode ignorar que isso simplifica essa realidade através do afastamento entre a realidade e seu estudo.
No século XX, são criados movimentos de superação da disciplinarização. São eles: a transdisciplinaridade, que é a abordagem de um tema que, pela sua natureza, ultrapassa a separação das disciplinas. Temáticas que exigem uma abordagem transdisciplinar são aquelas que, por sua natureza, requerem olhares para um fenômeno novo em sua totalidade, de tal forma que se vá além das disciplinas.
A multidisciplinaridade, como o próprio trás em sua raiz, pressupõe a abordagem de vários campos do conhecimento, mas não o diálogo entre as diversas abordagens. É o caso de agrupamentos de profissionais que, olham para um mesmo fenômeno, cada um mantendo seu ponto de vista. É muito comum que escolas usem um tema gerador, como uma Copa do mundo, por exemplo, em que, cada professor desenvolve uma atividade específica segundo o prisma de sua disciplina.
A interdisciplinaridade caracteriza-se pelo estudo de um fenômeno comum a duas ou mais disciplinas e que propõe o diálogo entre as várias abordagens. Segundo o professor Nilson José Machado, a interdisciplinaridade não exige que as disciplinas mudem seus objetos, mas estabeleçam relações mais fortes entre si, já que, embora o conhecimento esteja fragmentado, a realidade não está. Pensando em análises sobre a violência escolar, por exemplo, uma abordagem interdisciplinar organizaria um diálogo entre sociólogos, psicólogos e pedagogos, para juntos, tentarem compreender as causas do problema.
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