A história da escola contemporânea se inicia, segundo José Esteve[1], com a primeira revolução educacional, datada de 2500 anos atrás, no Egito. Essa escola se destinava aos filhos da aristocracia egípcia e seu modelo perdurou por cerca de 2300 anos. Sua configuração era de um professor, chamado também de preceptor, para um aluno. Essa educação individualizada, não permitia a inclusão de um grande número de alunos, ou seja, era uma educação para poucos.
A segunda revolução educacional data do século XVIII no período de consolidação dos Estados Nacionais. Essa consolidação precisou estabelecer-se em todos os âmbitos possíveis, e a educação também foi pensada seguindo novos parâmetros. O marco legal dessa revolução foi dado pelo Rei Frederico Guilherme II, da Prússia, que, através de um decreto determinou que a educação deveria ser pública e de responsabilidade do Estado e, com isso, consolidou o processo de laicização da educação.
A configuração dessa segunda revolução, que permanece nos dias atuais, era de um professor para vários alunos, em um espaço não mais individual. O espaço no qual se dava o processo de ensino-aprendizagem era a sala de aula. O professor ficava em um espaço reservado, o que evidenciava sua diferenciação, e tinha o papel de transmissor de conhecimento. Era um profissional que tinha acesso aos poucos e caros livros existentes.
Apesar de permitir um aumento no número de alunos, essa configuração não alcançava a toda a população. A homogeneização no processo educacional já era uma prerrogativa na possibilidade de um aluno frequentar a escola: os alunos eram excluídos de acordo com o gênero (só eram permitidos meninos) e de acordo com a classe social (em uma economia agrária, não era permitido, ou necessário, o acesso à educação para todos). Além disso, era legítimo que o professor excluísse o aluno que, por algum motivo, se diferenciasse dos demais dentro de processo de ensino-aprendizagem.
A terceira revolução educacional inicia-se na Europa no começo do século XX, com a universalização do ensino. No Brasil, a universalização vem acontecendo nos últimos 20 ou 30 anos. Esse processo acontece por uma necessidade sócio-econômica: em uma sociedade majoritariamente urbana, o acesso a educação faz-se fundamental para o desenvolvimento dos meios de produção.
A universalização da educação propõe a inclusão das diferenças: essa configuração não deve excluir os alunos, seja por motivos sócio-econômicos, seja por questões educacionais. A escola é lugar de todos, com todas as diferenças que lhe são inerentes.
Os desafios desse novo modelo são impositivos no sentido de atender a essa nova configuração, na qual se prevê que a educação deve aliar acessibilidade, equidade e qualidade de ensino. Torna-se imperativo abandonar a configuração da escola pensada para dez por cento da população para que se possa pensar em um modelo que abarque a universalização do ensino. A configuração pensada nos séculos anteriores não dá conta das novas exigências no campo da educação.
Boa noite, tudo bem? Andei dando uma olhada no seu blog, ele está fofo mesmo. É estranho como alguns textos me parecem familiares. Quero acompanhar a produção, por que encontrei coisas interessantíssimas no que vi.
ResponderExcluirEnvio esse email para compartilhar com você um texto que foi postado no curso que eu estou fazendo. (LAVILLE, Christian, A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de história)
POr favor, vamos conversar para que eu tenha certeza de não estar cometendo injustiças: é impressão minha, ou quando nos colocamos em marcha pela luta por nossos direitos, somos varridos para debaixo do tapete em nome da modernidade, modernidade que não nos defende no dia a dia, quando somos vítimas de preconceitos e afins?
Acompanhe meu raciocínio: agora, a modernidade européia luta por uma história, ou antes, por um ensino, supranacional, que vise o desenvolvimento de um espírito crítico. A crítica que Laville faz é que, na contramão disso, algumas discurssões sobre o ensino de história visam exatamente os pontos cruciais na questão de conteúdo. Ao longo do texto de Laville, vai me ficando perigosa a idéia de que, segundo o autor, o estudo sobre a história de minorias não está mais em conformidade com as "novas questões" sobre educação. Em outras palavras, a lei 10.639 não está em conformidade com o projeto de ensino do século XXI, no qual os conteúdos não são o ponto crucial do processo de ensino-aprendizagem.
A história européia de heróis nacionais vigora nesse país mesmo diante da "terceira revolução educacional" com a universalização do ensino. Agora, a educação supranacional e suprarracial pretendem, aparentemente, com o uso do nome de acadêmicos mundialmente conhecidos, diluir lutas e identidades forçadamente esquecidas e que teimam em aparecer para desespero da elite do mundo. Me pergunto se uma educação transversal também não corre o mesmo risco.
É evidente que não sou a favor de uma educação, ou antes, de uma história, de heróis. Mas sabemos, através de nós mesmos, que as imagens de Tiradentes e D. Pedro nos foram impostas, por um estudo nacionalista de suas histórias. Agora, em nome da modernidade, não poderei fazer um estudo realista da minha própria história?
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Donina Cibelle
Cursista da Escola de Formação de Professores do Governo do Estado de São Paulo
Cara Donina; antes de mais nada, agradeço a colaboração.
ResponderExcluirLi o artigo do Laville... e ele me pareceu meio fora de propósito.
A mim parece que ele não questiona os métodos nem os conteúdos do ensino de história, mas sim, os argumentos para tal ensino.
Em alguns momentos tive a impressão de que havia um saudosismo Francis Fukuyama ou Paulo Francis no ar...
Brincadeiras à parte: Milton Santos, o geógrafo, me ensinou que essa ladainha de que as fronteiras nacionais estão sendo desconstruídas com a 'globalização' é balela de especulador... De cada dez notícias internacionais, quantas dizem respeito à manutenção de fronteiras?
O ensino de história é o exercício do ponto de vista, não é? Conta-se uma história, real ou imaginária, sempre a partir de um lugar.
O artigo de Laville questiona exatamente os argumentos dos temas transversais, como Valores, Ética, Cidadania etc.
Creio, por sinal, que não tenha uma postura propositiva: exemplifica como ele discorda mas não propõe nada.
Mais uma observação: quando Laville diz que "A história é certamente a única disciplina escolar que recebe intervenções diretas dos altos dirigentes e a consideração ativa dos parlamentos. Isso mostra quão importante é ela para o poder." Não, Laville, essa não é a única disciplina que sofre interferências... O ensino de língua materna, no Brasil, pelo menos, é sempre tema de controvérsias em que até o técnico da seleção brasileira se sente à vontade para opinar... (brincadeira meramente ilustrativa). Julga-se a inteligência de um presidente da república, democraticamente eleito, por seus conhecimentos gramaticais.
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