segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A educação e a construção de valores

Como a escola pode atuar no processo de construção de juízo moral na criança, ainda segundo Piaget?

Para o professor Ulisses Araújo, existem sete dimensões que influem diretamente nesse processo. O primeiro deles é com relação ao currículo, pois, apesar de constar em todos os PPPs a pretensão de se formar os cidadãos, as escolas continuam a trabalhar temas como ética, direitos humanos e valores democráticos de forma fragmentada ou desarticulada da vivência dos alunos.

A segunda dimensão diz respeito à metodologia, pois, além de uma mudança do currículo, se faz necessário que se mude a forma como se trabalha em sala de aula. Não é sequer razoável que se trabalhe valores democráticos com os alunos e, ao mesmo tempo, se estabeleça uma relação unilateral no que diz respeito ao respeito ao respeito às regras, em que ele, o professor ensina e o aluno aprende. É necessário que se trabalhe de tal forma que haja uma construção coletiva do conhecimento.
É fundamental que as relações estejam pautadas no diálogo. Que as aulas sejam elaboradas levando-se em consideração a valorização do diálogo, ou seja, que haja uma igualdade nas relações.

A terceira dimensão diz respeito ao trabalho intencional da escola no desenvolvimento dos valores nos aluno. Que faça parte do currículo ou da organização curricular, para que se possa ensinar planejadamente e se possa avaliar o quanto o aluno assimilou dos valores que foram inseridos em seu cotidiano. O documento norteador para os trabalhos de desenvolvimento dos valores em sala de aula pode ser a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A quarta dimensão estaria voltada para as relações interpessoais e os sentimentos que a ela estão interligados e entre os vínculos que se desenvolvem entre o aluno e o professor e entre aluno e aluno. As relações de respeito, autoridade e admiração devem ser trabalhadas em sala de aula e isso deve ser feito de forma democrática, em que o respeito possa contribuir para que, da admiração surja uma relação dialógica de autoridade.

A quinta dimensão é a da autoestima. Segundo Harkot de-la-Taille, 1999, “Cada ser humano constrói para si  uma imagem que julga representá-lo, com a qual se identifica e se confunde”. Em nossa consciência temos essa autoimagem e a relação que estabelecemos com essa autoimagem. A discriminação abaixa a autoestima do aluno, seja ela por esse aluno ser mais lento, ser negro ou ter qualquer deficiência, e esse aluno dificilmente vai querer agir em prol do coletivo, uma vez que o coletivo é visto por ele como um opressor, um adversário.

A sexta dimensão é a do autoconhecimento, que é a tomada de consciência de si mesmo e dos sentimentos e emoções que nos constituem. Sem esse conhecimento, podemos confundir amor e ódio, deseja algo achando que tem raiva etc. Só podemos ter clareza de como alguém vai se sentir quando agirmos de uma determinada maneira se compreendermos o que nós sentimos quando alguém age assim conosco.

Um bom exercício para desenvolver o autoconhecimento é propor quer a criança pegue uma folha e a divida ao meio, desenhando de um lado uma pessoa triste e, do outro, como poderíamos ajudar a essa pessoa. Dessa forma exercitamos a compreensão das dores dos outros e de como gostaríamos que agissem conosco quando estivéssemos tristes e por assim adiante.

A sétima dimensão é a da gestão escolar pois uma instituição com o projeto político pedagógico é centralizado na construção e na implementação foge a qualquer princípio democrático e, dessa forma impede a constante atualização que a educação para valores requer.



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