A palavra respeito surge aqui como algo que deve ser destacado, afinal, o que está em jogo não é o mero cumprimento às normas, mas sim a postura que se tem diante delas.
Piaget divide o aprendizado moral em três estados: A Anomia, a Heteronomia e, por fim, a Autonomia. O sulfixo 'nomia' deu origem à palavra norma.
Anomia: Ao nascer a criança não tem nenhuma noção de regras, de horários nem qualquer preocupação que esteja para além de suas vontades. Se sente dor ou fome, não há uma preocupação de que aquele momento ou local requer silêncio - ela chora; se tem necessidades fisiológicas - ela faz.
Heteronomia: Aos poucos a criança vai percebendo que existem regras, comportamentos questionados ou valorizados. Através de sucessivas interpolações por parte dos adultos, se dá conta de que há, no mundo externo a ela, 'guardiões' do comportamento. Se fizer algo, "mamãe não gosta" "deus castiga" etc.
Autonomia: A tendência é de que, com o passar do tempo, o sujeto internaliza esse conjunto de regras. Há já o juízo moral, mas ele não é externo - não se faz necessária uma cobrança externa. Ainda segundo o autor, a partir da internalização dessas regras, não estamos mais lidando com as possibilidades de uma retaliação, uma vez que a pessoas se propõe a, por ela mesma, respeitar tais regras.
É importante frisar que, nessa obra, Piaget não fala de etapas, fala de estados.
Essa descrição piagetiana vem acompanhada de uma proposição de formação de sujeitos morais pela sociedade em que, não mais se estabeleçam relações de coação - aquelas em que a pessoa não faz algo por medo de ser punido. Daí a escolha pelo termo respeito, e não obediência. Segundo essa teoria, deve-se buscar uma relação de afetividade, e não de medo.
A idéia é que haja uma busca pela cooperação, uma vez que o que se pretende em uma sociedade é o respeito mútuo, e não a obediência unilateral.
É possível estabelecermos um gráfico em que o estado de anomia equivale a um estado de egocentrismo, e que, à medida que forma-se o juízo moral diminui o grau de egocentrismo no sujeito.
O que torna essa teoria sobre a formação do juízo moral na criança diferente em relação às propostas behavioristas é justamente o direcionamento que a educação pode dar para a construção desse juízo moral, uma vez que, aqui, não é a repetição de comportamentos e estímulos/punições que, com o passar dos anos, determina o comportamento, mas a relação de troca de afetividades e as escolhas de cada um formando um juízo de valores dos sujeitos.
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