segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pesquisas em educação e valores


Os aspectos conscientes do sujeito psicológico que se inter-relacionam para formar o juízo de valores são:  biológicos, cognitivos, socioculturais e os afetivos. Retomando a definição de que os valores podem ser representados por tudo aquilo de que a pessoa gosta e, tudo aquilo que a pessoa não gosta pode ser tratado como contravalores, relembramos que os sujeitos têm papel ativo na construção de valores e, portanto, esses valores podem ser morais ou não.


A partir desse raciocínio torna-se compreensível o fato de que a moralidade não se guia apenas pelo princípio da justiça.

A moralidade está integrada à identidade do sujeito e os valores que a constituem vão se constituindo como centrais e/ou periféricos no sistema moral do sujeito, dependendo das situações.

Podemos pegar como exemplo uma situação em que dois amigos se vêm diante de um ‘dilema moral’: um amigo está indo mal na escola e precisa de ajuda do outro. Em um desdobramento possível dessa situação, pensemos nos valores Responsabilidade e Amizade. Se, para aquele que está em condições de ajudar, o valor responsabilidade falar mais alto, ou seja, for um valor central na constituição desse sujeito, ele pode simplesmente chamar seu amigo à responsabilidade e pensar que ser amigo nesse caso é deixar que o outro arque com as consequências de sua irresponsabilidade. Por outro lado, se o valor Amizade for o central para esse mesmo sujeito, ele poderá ajudar seu amigo, mesmo que isso possa ser visto como um estímulo à irresponsabilidade ou que isso possa representar uma atitude desonesta, se pensarmos até na possibilidade de trapaça na hora da avaliação.

Os sentimentos regulam os valores que constituem o sujeito e, como esses valores são integrados, eles se organizam hierarquicamente, formando o sistema moral. Como o sistema é dinâmico, a cada situação, eles podem se reorganizar de formas diferentes para responder àquela situação específica.

Como exemplo, podemos reavaliar o caso anterior, de um amigo que pede ajuda a outro. Pensemos agora nos valores Amizade e Generosidade e ainda, na Responsabilidade. Para atender ao pedido do amigo, o sujeito psicológico integrou os dois primeiros valores, colocando-os no centro, e realocou o valor Responsabilidade para a periferia de seu sistema moral.

Como essas constatações podem contribuir para a pedagogia na formação escolar dos sujeitos morais? Se compreendemos que o sujeito tem um papel ativo na construção dos valores e que a ética está intimamente ligada à adesão, por parte do sujeito, a um sistema, a educação desses valores não pode ser transmissiva, fazendo-se necessária uma pedagogia que estimule o papel ativo do sujeito na construção de seus próprios valores.

Por outro lado, a partir do momento que percebemos que os valores podem ser morais ou não e que a moralidade não se guia unicamente nem principalmente pela noção de justiça, faz-se necessário trabalhar com diversos valores, exemplificando-os e exercitando o juízo de valores dos alunos e alunas, de tal forma que desenvolvam a habilidade de integrar e realocar os valores de acordo com as situações. É preciso, portanto, trabalhar a construção e elaboração de valores de forma planejada, através de sequências didáticas e projetos voltados para sua formação nos sujeitos.

Se sabemos que os valores são regulados pelos sentimentos, precisamos, também, inserir a exploração e explicitação dos sentimentos e suas variantes dentro das diversas modalidades didáticas, para que, com isso, o(a) aluno(a) possa se conhecer melhor e aprender a lidar com os próprios sentimentos.

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