A primeira questão que se coloca quando alguém se propõe a trabalhar o tema é que, e isso é da própria natureza da violência, ela tende a desorganizar os discursos. Ela instaura o silêncio, no emudece. Não é fácil falar sobre esse tema. Geralmente quando nos vemos diante de uma situação em que nos confrontamos com a violência é comum frases como: “- Não sei o que falar numa hora dessas...” ou: - “Eu não tenho palavras...”
Tudo isso em virtude da perplexidade que se instaura diante dessas situações. É comum termos a sensação de que a violência se espalhou de forma inequívoca por toda a sociedade. Que ela é uma fatalidade, que tomou conta de todos os espaços.
Lembrando uma fala de José Saramago em seu brilhante Ensaio sobre a cegueira: “Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara.” Já que constatamos que o tema é espinhoso, difícil de lidar, é importante cuidarmos para que ele possa receber uma atenção especial. E ainda, para fazer jus à grandiosidade do autor, não poderíamos deixar despercebida a duplicidade do termo ‘reparar’, que pode, ao mesmo tempo, fazer referência a prestar atenção, olhar atentamente, pode também sugerir uma intervenção, no sentido de consertar algo que não está ‘funcionando’ adequadamente.
A idéia é identificar o que ocorre realmente, buscando palavras para que se possa fazer um ‘diagnóstico’, identificando possíveis causas e procurando mecanismos para ‘reparar’ o que está necessitando de reparos. Ao mesmo tempo em que temos que pensar naquilo que a escola pode fazer para contribuir para a solução do problema, temos que ter a precaução de não acreditar que é uma incumbência da escola resolver um problema que não é de sua ‘competência’, tendo assim, o cuidado para não contribuir para a sobrecarga de demandas no âmbito escolar.
De que violência você está falando quando se queixa de violência?
Geralmente quando os agentes escolares fazem queixas sobre violência, essas vêm de forma difusa, o que dificulta o primeiro movimento de diagnóstico do problema. A diversidade de situações que são abarcadas dentro do mesmo tema é um agravante para a realização de uma anamnese. Enquadra-se desde um gesto de desrespeito até agressões físicas, passando por muitas variantes, como sendo todas simplesmente violências. Quando alguém se queixa de uma escola “extremamente” violenta, está se referindo a uma infinidade de ações enquadradas todas sob o mesmo rótulo.
Uma idéia muito presente no mundo escolar, relatada em uma tese de mestrado recente, de autoria de Paulo Neves, é a de que atualmente “as meninas estão piores do que os meninos”. A dimensão é a das brigas entre as meninas, o que perturba uma ordem instituída e difunde a idéia de que a violência tomou conta da sociedade e, que, agora, é protagonizada pelas meninas.
Por outro lado a escola não pode deixar de olhar ou reparar nas questões de violência familiar, assumindo, assim, o papel de interagir dialogando, quem sabe, com o conselho tutelar, com outros familiares etc.
Há muitas queixas, também, com relação à violência que é estrutural, que é sistêmica. Que é da natureza própria da instituição Escola. É comum vermos instituições em que os diretores, os coordenadores se vêem isolados, e, portanto, tornam-se ineficazes na realização de suas tarefas. Em casos assim, nem os professores, nem os alunos conseguem cumprir com seu papel.
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